Entenda a situação no Equador, país que sofre com o avanço do crime organizado e não toma ações efetivas para reverter essa situação.
Tudo tem um começo, e começou pela desorganização política e brandeza do estado.
O Equador é um país de cerca de 17 milhões de habitantes, localizado na costa oeste da América do Sul. Ele faz fronteira com a Colômbia, o Peru e o Oceano Pacífico. O país tem uma grande diversidade cultural, étnica e geográfica, com regiões como a Amazônia, os Andes e as Ilhas Galápagos.
O Equador também tem uma história política turbulenta, marcada por golpes de Estado, instabilidade institucional e conflitos sociais. Desde a sua independência da Espanha em 1822, o país teve mais de 20 constituições e mais de 40 presidentes, muitos deles depostos por revoltas populares ou militares.
A atual crise no Equador começou em 2017, quando o presidente Lenín Moreno assumiu o poder após vencer as eleições com o apoio do seu antecessor, Rafael Correa. Correa foi um líder populista que governou o país entre 2007 e 2017, implementando políticas de esquerda, como a expansão dos programas sociais, a renegociação da dívida externa e a confrontação com os Estados Unidos.
No entanto, Correa também foi acusado de autoritarismo, corrupção e violação dos direitos humanos. Ele enfrentou vários protestos da oposição, dos indígenas e dos estudantes, que criticavam o seu controle sobre os meios de comunicação, a justiça e as forças armadas. Além disso, ele deixou uma herança econômica difícil para o seu sucessor, com um alto déficit fiscal, uma dívida crescente e uma dependência do petróleo.
Moreno, que foi vice-presidente de Correa entre 2007 e 2013, rompeu com o seu antigo aliado logo após assumir o cargo. Ele adotou uma postura mais moderada e conciliadora, buscando dialogar com os setores da sociedade civil, da oposição e do empresariado. Ele também se aproximou dos Estados Unidos e do Fundo Monetário Internacional (FMI), buscando obter ajuda financeira para enfrentar a crise econômica.
Essas medidas desagradaram aos seguidores de Correa, que se sentiram traídos pelo novo presidente. Eles passaram a se organizar em um movimento chamado “correísmo”, que defende o retorno do ex-presidente ao poder. Correa, que vive na Bélgica desde que deixou o Equador, é considerado um fugitivo da justiça equatoriana, que o condenou por corrupção e tentativa de sequestro.
O correísmo se tornou uma força política importante no Equador, disputando as eleições legislativas e presidenciais de 2021. O candidato apoiado por Correa, Andrés Arauz, chegou ao segundo turno das eleições presidenciais, mas foi derrotado pelo candidato de centro-direita Guillermo Lasso.
Lasso assumiu a presidência em maio de 2021, prometendo combater a pobreza, a corrupção e a pandemia do coronavírus. No entanto, ele enfrenta uma forte oposição do correísmo e de outros setores da sociedade que rejeitam as suas políticas neoliberais. Ele também tem que lidar com uma situação de insegurança pública, que se agravou nos últimos anos.
Grupos armados ilegais e narcotráfico.
O Equador é um dos países mais afetados pelo narcotráfico na América do Sul. O país é usado como rota de transporte da cocaína produzida na Colômbia e no Peru para os mercados dos Estados Unidos e da Europa. O país também sofre com a presença de grupos armados ilegais que operam nas suas fronteiras, como as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército de Libertação Nacional).
Esses grupos se envolvem em atividades criminosas como extorsão, sequestro, assassinato e contrabando de armas e combustíveis. Eles também recrutam jovens equatorianos para integrar as suas fileiras, oferecendo-lhes dinheiro e proteção. Esses jovens, muitas vezes, acabam se tornando vítimas de violência ou de exploração sexual.
Apoio popular a coisas ilegais?
Sim é possível, o governo equatoriano tem dificuldade em controlar esses grupos, que contam com o apoio de parte da população local, que se beneficia do comércio ilegal. O governo também enfrenta resistência dos indígenas e dos camponeses, que se opõem à presença militar nas suas terras e à exploração dos recursos naturais pelo Estado e pelas empresas estrangeiras.
O resultado é um cenário de conflito, violação dos direitos humanos e deterioração do Estado de direito no Equador. O país vive uma crise humanitária, social e política, que ameaça a sua democracia e a sua soberania. O futuro do Equador depende da capacidade dos seus líderes e da sua sociedade de encontrar soluções pacíficas e inclusivas para os seus problemas.
Estado de exceção decretado, mas com ações brandas ao crime organizado.
O governo do Equador enfrenta um grande desafio para combater o crime organizado, que se aproveita da instabilidade política e social do país. Segundo o ministro da Defesa, Oswaldo Jarrín, o Equador é um “corredor estratégico” para o tráfico de drogas, armas e pessoas, além de ser palco de disputas entre grupos criminosos que operam na fronteira com a Colômbia e o Peru.
Em uma entrevista coletiva, Jarrín anunciou que o governo vai reforçar a segurança nas zonas fronteiriças, com o aumento do efetivo militar e policial, a instalação de radares e câmeras de vigilância, e a criação de uma força-tarefa conjunta entre as Forças Armadas e a Polícia Nacional. O ministro também afirmou que o governo vai intensificar a cooperação com os países vizinhos e com organizações internacionais para enfrentar o crime transnacional.
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, que assumiu o cargo em maio de 2021, tem como uma de suas prioridades a recuperação da ordem pública e o fortalecimento do Estado de Direito. Em seu discurso de posse, ele declarou que “não haverá tolerância com a corrupção, o narcotráfico, o contrabando, a extorsão e o sequestro”. Ele também prometeu “defender a soberania nacional e garantir a paz e a segurança dos equatorianos”.
O crime organizado é um dos principais problemas que afetam o desenvolvimento econômico e social do Equador, um país de cerca de 17 milhões de habitantes, que tem uma das maiores taxas de pobreza da América Latina. Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em 2020, 32,4% da população equatoriana vivia em situação de pobreza e 15,4% em situação de extrema pobreza.
Cereja do bolo? Uma crise sanitária em meio ao caos!
Além disso, o Equador enfrenta uma grave crise sanitária causada pela pandemia da covid-19, que já deixou mais de 23 mil mortos e mais de 500 mil infectados no país. O sistema de saúde está colapsado e há escassez de vacinas, medicamentos e oxigênio. O governo espera vacinar toda a população adulta até o final de 2021, mas até agora apenas cerca de 20% dos equatorianos receberam as duas doses da vacina.
O estado de exceção no Equador pode afetar o Brasil? Qual o posicionamento do governo brasileiro em relação a essa crise?
O estado de exceção no Equador pode ter impactos diretos e indiretos no Brasil, tanto no âmbito político quanto no econômico e social. Vejamos alguns possíveis cenários:
- No âmbito político, o estado de exceção pode gerar instabilidade e incerteza na região, especialmente às vésperas das eleições presidenciais no Equador, marcadas para o dia 20 de agosto. O Brasil, como um dos principais parceiros comerciais e políticos do Equador na América do Sul, tem interesse em que o processo eleitoral transcorra de forma pacífica, transparente e democrática, respeitando a vontade popular e as instituições do país.
- No âmbito econômico, o estado de exceção pode afetar negativamente as relações comerciais entre os dois países, que somaram US$ 1,2 bilhão em 2023, segundo dados do Ministério da Economia. O Equador é um importante mercado para as exportações brasileiras de produtos como carne bovina, açúcar, café, milho e máquinas. Além disso, o Brasil é um dos principais investidores estrangeiros no Equador, com destaque para os setores de energia elétrica, telecomunicações e construção civil.
- No âmbito social, o estado de exceção pode provocar uma crise humanitária no Equador, com aumento da violência, da pobreza e da migração forçada. O Brasil pode ser afetado por um eventual fluxo migratório de equatorianos em busca de refúgio ou oportunidades no país. Segundo dados da Polícia Federal, cerca de 15 mil equatorianos vivem atualmente no Brasil, principalmente nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Qual o posicionamento do governo brasileiro em relação à crise no Equador?
O governo brasileiro manifestou sua solidariedade ao povo e ao governo equatorianos pelo assassinato do candidato à presidência Fernando Villavicencio. Em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores na quarta-feira (9), o Brasil condenou “veementemente” o ato terrorista e expressou suas condolências aos familiares da vítima e aos feridos.
O Brasil também reiterou seu apoio ao processo eleitoral no Equador e seu compromisso com a defesa da democracia, dos direitos humanos e do Estado de Direito na região. O governo brasileiro afirmou que acompanha com atenção a situação no país vizinho e que está pronto para colaborar com as autoridades equatorianas na busca de soluções pacíficas para a crise.